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scriptorium

"Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria." (Umberto Eco, O Nome da Rosa)



Sábado, 14.02.15

O AMOR TRANSIDO

Sem nome 2.png

 A noite passada,

à hora em que a Ursa

mais perto discursa

da mão do Boieiro;

e o sono profundo

no grémio fagueiro

por todo esse mundo

restaura os mortais,

em meio era a noite;

o exemplo dos mais

no leito eu seguia;

sereno dormia...

À porta imprevisto

Cupido me bate!

À pressa me visto;

redobra o rebate;

acudo a correr.

«Sou eu» — diz de fora —

«não tens que temer;

«sou um pequenino

«que vaga a tal hora,

«molhado e sem tino,

«perdido no escuro,

«pois lua não há!»

Ouvi-lo gemendo

de mágoa me corta;

a lâmpada acendo,

franqueio-lhe a porta…

em casa me está!

Descubro (em verdade

mentido não tinha)

gentil criancinha

com arco e carcás.

Remexo nas brasas

da minha lareira;

restauro a fogueira;

as mãos, que são gelo,

lhe aqueço nas minhas,

lhe espremo o cabelo,

lhe enxugo as asinhas;

já frio não faz.

«Vejamos se a chuva»

(dizia e sorria)

«a corda do arco

«me não danaria!»

Levanta-a do chão;

recurva-o, dispara

no meu coração.

A frecha que o vara

parece um tavão.

Eu, dores danadas,

e o doudo às risadas,

de gosto a pular!

«Meu caro hospedeiro»,

(me diz prazenteiro)

«agora é folgar.

«Permite me ausente;

«meu arco está são...

«Quem fica doente

«é teu coração!»

 

Ode anacreôntica (tradução de A. F. Castilho)

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Maria Almira Soares às 17:46

Sábado, 14.02.15

Claros raios ao Sol, luz às estrelas.

 

afrodite.jpg

 

Quando Amor nasceu,

Nasceu ao Mundo vida,

Claros raios ao Sol, luz às estrelas.

O Céu resplandeceu,

E de sua luz vencida

A escuridão mostrou as coisas belas.

Aquela, que subida

Está na terceira esfera,

Do bravo mar nascida,

Amor ao Mundo dá, doce amor gera.

Por amor se orna a terra

D’águas e de verdura,

Às árvores dá folhas, cor às flores.

Em doce paz a guerra,

A dureza em brandura,

E mil ódios converte em mil amores.

Quantas vidas a dura

Morte desfaz, renova:

A fermosa pintura

Do Mundo, Amor a tem inteira, e nova.     

 

Ninguém tema seus fogos,

E chamas furiosas.

Amor é tudo, amor suave, e brando,

Sujeito a brandos rogos,

As águas amorosas

Dos olhos com brandura está alimpando.

Douradas, e fermosas

Setas n’aljava soam

À vista perigosas;

Mas amor levam, dos amores voam.

Amor em doces cantos,

Em doces liras soe,

Torne seu brando nome este ar sereno.

Fujam mágoas, e prantos,

O ledo prazer voe,

E claro o rio faça, o vale ameno.

No terceiro Céu toe

D’amor a doce lira,

E de lá te coroe,

Castro, de ouro o grã Deus, que amor inspira.

 

António Ferreira, Castro, Lisboa, Ed. Ulisseia, s. d., págs 178 -179.

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por Maria Almira Soares às 11:54


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