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scriptorium

"Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria." (Umberto Eco, O Nome da Rosa)



Terça-feira, 25.08.15

NOMINOR QUONIAM LEO

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Numquam est fidelis cum potente societas:
Testatur haec fabella propositum meum.
Vacca et capella et patiens ovis iniuriae
Socii fuere cum leone in saltibus.
Hi cum cepissent cervum vasti corporis,
Sic est locutus partibus factis leo;
«Ego primam tollo, nominor quoniam leo;
Secundam, quia sum consors, tribuetis mihi.

Tum, quia plus valeo, me sequetur tertia;
Malo afficietur, si quis quartam tetigerit.»
Sic totam praedam sola improbitas abstulit.

Phedrus

 

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por Maria Almira Soares às 13:25

Segunda-feira, 17.08.15

LER NÃO É PARA ADORMECER

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Quando se lia Bernardim,

lia-se até ao fim.

Quando se lia Vergílio Ferreira,

lia-se a noite inteira.

Quando se lia Eça de Queirós,

Fradique Mendes éramos nós.

Quando se lia Verlaine,

cantarolava-se toute la semaine.

Quando se lia Fernão Mendes Pinto,

bebia-se um copo de vinho tinto.

Quando se lia Aquilino Ribeiro,

às vezes, era janeiro.

Quando se lia Garrett,

também se lia na retrete.

Quando se lia Fernão Lopes,

na nossa cabeça, soavam galopes.

Quando se lia Machado de Assis,

ficava-se sempre um pouco infeliz.

Quando se lia Manuel da Fonseca,

também se lia na biblioteca.

Quando se lia Ramos Rosa,

a nossa língua ficava gostosa.

Quando se lia Bossuet,

não se sabia muito bem porquê.

Quando se lia Pierre Corneille,

la langue chantait dans nos oreilles.

Quando se lia António Vieira,

caíam palavras sobre a cabeceira.

                                                   ...

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por Maria Almira Soares às 09:44

Sábado, 15.08.15

SEMPRE TÃO AGRADÁVEL...

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 Continuou a escrever a sua história que, depois de relida e aprimorada, haveria de fechar com uma das chaves de ouro, em que a diziam exímia, e ela também achava que sim. Estava satisfeita. Conseguira dar o tom certo ao tal olhar que lhe lembrava o da tal pessoa do seu passado. Postou a história no seu blogue. Não conseguia evitar a surpresa de ver, nas suas palavras, a cara do, do... Mas que coisa... já nem me lembrava de que o tinha totalmente esquecido ... Suspirou, mas, logo a seguir, lembrou-se do seu aborrecimento por ter falhado o lançamento do livro daquele escritor novo... Que maçada! Gostava tanto de ter ido! Mas não se pode estar em tudo, não é?! Ainda por cima no el Corte Inglez, sempre tão agradável... Comprava o livro e ainda ficava com a dedicatória! Quero muito lê-lo! Ai quero, quero... Já está na minha lista... Que pena! Uma oportunidade perdida... Deve lá ter estado meio mundo dos media... Hei de espreitar no facebook... Este fulano promete... E o título!? Tão poético! Tenho a impressão de já o ter ouvido antes, em qualquer lado... mas é lindo...

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por Maria Almira Soares às 11:43

Quinta-feira, 06.08.15

HISTÓRIA NA LIVRARIA

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— Por falar em histórias, vou-lhe contar uma. Esta tem graça. Ó Mendes, você calcula até onde já chegou a alarvidade das nossas ainda chamadas livrarias?

— Mais ou menos.

— Vai ver que não. Um dia destes, fui dar com o seu livro, o Língua e literatura, irmãs desavindas? na secção das novelas light.

— Anh?

— Pois é, anh. E mais. Prepare-se: quando eu pego no livro e interpelo o empregado, ele sai-se de lá com esta: — Mas atão esse não é o livro do Mendes, o gajo do concurso?

— Ó Salles, por amor de deus, deixe-se lá de chinês e explique-se.

— O empregado da loja pensou, muito bem pensado, que um livro com o título de irmãs desavindas (para ele, as palavras anteriores eram só explicação) era assim tipo Família Destroçada e que Mendes só havia um, o do concurso e mais nenhum, e toca de pôr o seu denso tratado de linguística entre O homem que me batia e A vitória do amor.

— Porra, Salles, isso também já é demais. Caraças. Então o gajo não viu lá escarrapachado língua e literatura?

— Viu, viu. Mas sabe o que é que ele me disse quando lhe falei nisso? Atão, tudo o que se escreve, não é tudo língua e literatura?! Assim, toma lá. E, depois de eu lhe explicar tudo bem explicadinho, quando me afastei, ainda o ouvi dizer e qual era o mal? Se calhar assim, até vendia mais... Tome lá!

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por Maria Almira Soares às 21:43

Quarta-feira, 05.08.15

O QUE É PRECISO É GENTE: Ana Hatherly

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 Esta Gente / Essa Gente

 

O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente

Gente que não seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente

Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente

Gente que enterre o dente
que fira de unha e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente

O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente

Essa gente dominada por essa gente
não sente como a gente
não quer
ser dominada por gente

NENHUMA!

A gente
só é dominada por essa gente
quando não sabe que é gente

Ana Hatherly

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por Maria Almira Soares às 11:34

Terça-feira, 04.08.15

LEITURA & INFÂNCIA

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 O tempo da educação de Antónia foi o da descoberta da leitura social e terapêutica, a leitura como mezinha para todos os males do crescimento mental e sensitivo: preventiva, curativa e placebo. A mãe, pessoa que cumpria a aparência dos protocolos culturais, tinha até ouvido, numa das sessões que frequentara, que o pai deveria estar a ler enquanto a criança nascia. E mesmo para a barriga da mãe antes do nascimento. E comprou até livros de plástico para os banhos do bebé. E de pano, para o bebé meter na boca. Mais tarde, quando foi hora disso, Antónia teve muitos, muitos, livros a sério. Tomou o seu livro como os meninos antigos tinham tomado o seu óleo de fígado de bacalhau e o seu cálcio granulado. Cordatamente. Em criança, enquanto lia, com mais ou menos consciência ia engolindo vocabulário, frases, cenas, desenlaces, figuras e, nos casos em que verdadeiramente a coisa acontecia, emoções, revelações, segredos…

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por Maria Almira Soares às 13:26


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