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scriptorium

"Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria." (Umberto Eco, O Nome da Rosa)



Sábado, 04.01.14

UMA ALEGRE OFICINA DA SABEDORIA

 

 

Levada pela mão sábia de Umberto Eco,

abro este scriptorium: lugar votado a trabalhos de leitura e de escrita.

 

Primeiro Dia

DEPOIS DA HORA NONA

Visita ao scriptorium...

 

   

[ ... ]

    Chegados ao cimo da escada, entrámos, pela torre oriental, no scriptorium  e não pude deixar de soltar um grito de admiração. O segundo andar não estava dividido em dois, como o andar inferior, e, por isso, oferecia-se ao meu olhar como um espaço imenso. As abóbadas, de curvatura não muito alta ( menor que a das igrejas, mas maior do que as de qualquer sala capitular), sustentadas por fortes colunas, envolviam um espaço inundado por uma luz belíssima, já que três enormes vitrais se abriam em cada um dos lados mais compridos, enquanto que cinco vitrais mais pequenos fendiam cada um dos cinco lados exteriores de cada torre; finalmente, oito vitrais, altos e estreitos, deixavam também entrar a luz pelo poço octogonal interior.

    A abundância de janelas fazia  com que a grande sala fosse alegrada por uma luz contínua e difusa, mesmo nesta tarde de  Inverno.

   O vitral não era colorido como o das igrejas e a rede de caixilhos de chumbo enquadrava pedaços de vidro incolor, para que a luz entrasse o mais pura possível, não modulada pela arte humana e desempenhasse a sua função, ou seja, iluminar o trabalho de leitura e de escrita. Muitas outras vezes vi, em outros lugares, numerosos scriptorium, mas nenhum em que resplandecesse tão luminosamente, nas correntes de luz física que irradiavam no ar, o princípio espiritual, que a própria luz encarna, a claritas, fonte de toda a beleza e sabedoria, atributo inseparável do ideal de proporção presente na sala. É que três coisas concorrem para a criação da beleza: primeiro, a inteireza ou perfeição e, por isso, consideramos feias as coisas incompletas; em seguida, a devida proporção, outrora chamada harmonia; finalmente, a clareza e a luz e, com efeito, chamamos belas às coisas límpidas. E, como a visão do belo implica a paz e é em nós o desejo da serenidade através da paz, do bem ou do belo, senti-me invadido  por uma imensa consolação e pensei em como deveria ser agradável trabalhar neste lugar.

    Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria.

 

 Umberto Eco, O Nome da Rosa

 

 

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por Maria Almira Soares às 21:12


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