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"Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria." (Umberto Eco, O Nome da Rosa)
A leitura chama, de forma muito íntima, a nossa subjetividade, mas também nos traz o mundo. E, portanto, a leitura, este processo de, enquanto nos vemos, vermos também outros mundos, é uma forma extraordinária da nossa construção, da nossa constituição como seres humanos.
Há, nos discursos valorativos da leitura, uma palavra invasora que eu considero perigosa: prazer. O prazer é uma coisa evanescente, é uma coisa volátil, é uma coisa que não tem um horizonte de construção.
A criação de um leitor não decorre tanto de criar condições atrativas para a aceitação do livro, mas de desenvolver oportunidades de correspondência entre a necessidade de alimentar o nosso imaginário e a leitura; de suscitar o encontro entre o apelo do capital simbólico que todos possuímos com as palavras de um livro. São frequentes, fáceis, óbvios, tais encontros? Não. A leitura de uma obra-prima, de um clássico indispensável, pode começar por embater na impaciência, na distração, na falta de instruções de uso, na inexperiência de uma criança ou de um jovem, mas, ao fazê-lo, cria ressonância, memória, influência e, sob certas condições – as da presença de um modelo emocionalmente contagiante, o do professor detentor de um imaginário rico de leitor, por exemplo – pode fazer essa leitura atingir o patamar da surpresa, pode fazer, da leitura, um difícil tesouro que se deseja.
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