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"Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria." (Umberto Eco, O Nome da Rosa)
Já o livro não leio, adormecida,
No sono escuro, minha mente se dissolve.
Já nem a mão direita a folha volve,
Nem o olhar entende a frase lida.
Então, quando me rendo e adormeço
Vítima do cansaço, reconheço
Quão ousado e insano foi o intento
de ler, de sempre ler, p’la noite dentro.
Amanhã, ao raiar da luz do dia,
Quando for incapaz de me lembrar
Da passagem do livro, que então lia,
Na altura em que tinha adormecido,
Seja eu capaz, de a vir a retomar!
Saiba reler o que ficou mal lido!
Pergunto às capas expostas
Pelo livro desejado,
Mas elas voltam-me as costas,
Pois que esse já é passado.
Na livraria mais in,
Em tempos de propaganda,
Procuro alguém que me ensine
Por onde é que o livro anda.
Mas, a noite está escura
E os tempos comerciais.
Nada fica, nada dura,
Só se quer é vender mais.
Mesmo em eras de ganância,
Não cessemos de lutar
P’los livros cuja importância
Transcende o que é popular.
Sonho que sou uma leitora andante
Por versos, por palavras, prosa dura.
Procuro os livros com' uma caminhante
Em busca do Palácio da Leitura.
Em alguns, o meu olhar descanso,
Subo-os, como quem sobe um rio manso.
Mas a outros, para os desbravar,
Preciso de insistir e de lutar.
Julgando ter meu sonho realizado,
De muito ter lido e em mim guardado
Da leitura a experiência comovida,
Refreio o ímpeto ansioso e apressado.
Mas, de repente, caio em mim e brado:
— Pra tanto livro, não chega toda a vida!
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