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scriptorium

"Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria." (Umberto Eco, O Nome da Rosa)



Sexta-feira, 14.03.14

EM EDUCAÇÃO É PELO MÁXIMO QUE SE VAI AO MÍNIMO.

 

 

        Há coisas difíceis de avaliar no sentido mercantil da palavra: a leitura, por exemplo. O que vale ler? Muito. Ler os grandes autores de uma literatura? Muitíssimo. Fazer os nossos jovens lerem na escola os autores máximos da literatura portuguesa? Sem preço. Haverá, desta questão, outra consciência e razões para a razão dela.  Poderão, no entanto, consciência e razões serem inexatas e a inexatidão é uma coisa precária. Todos os que aduzem razões têm razões para isso. Mas ter a sua razão não é ainda ter razão. Melhor do que ter a sua razão é ter a verificação pela experiência de que o melhor lugar para conhecer a língua portuguesa são os grandes textos literários. Ter a longa experiência de que se ensina/aprende com grande clareza e eficácia a língua portuguesa lendo os grandes textos literários portugueses. O resto mora noutras moradas. Se não se ensina língua com os grandes textos literários, a causa não está nesses textos, mas alhures. Se não se sabe ensinar língua com os textos literários, deve aprender-se a fazê-lo. Saber-se-á fazê-lo com outros textos? Que uso da língua dar-se a saber? E que inibição no conhecimento da língua não plantar? Apenas procuram a segurança autoprotetora, a defesa contra o tormento da verdade: o olhar que desenraíza a língua das grandes realizações humanas que com ela se fazem; o olhar que só a vê formal e abstratamente, na pulsão de a explorar de modo entrópico; o olhar que a estuda na solidão da frase e da palavra, cortadas dos mundos que inevitavelmente elas constroem e do desdobramento de versões que de si mesmas fazem na comunicação literária. A clareza da gramática ou se entende na riqueza da língua ou torna-se uma técnica, uma linguagem no pior sentido. A incapacidade de integrar riqueza e clareza leva à escolha da facilidade. Leva ao destruir da casa para matar a pulga. E até pode ser que a pulga escape. Ficar-se-á, então, sem a casa, sem a casa do ser, enquanto se vai saltitando muito pelos variados discursos utilitários. A escola tem obrigação de ensinar a Língua Portuguesa no e com o que Gil Vicente, Camões, Vieira, Cesário, Pessoa... fizeram com ela. Orientar a leitura não é sinónimo de estreitar; é uma coisa laboriosa e difícil que se faz enquanto se lê. A escola deve alimentar, deve aumentar, deve engrandecer, e não fornecer doses de fast language. Não deve viver da repulsão da incerteza, mas para o maravilhamento com a polissemia, para o encanto de, lá no meio da mágica floresta verbal da literatura, habitar também a pedra dura da gramática bem explícita. Deve mostrar a diferença e a estranheza e não ficar-se pela massificação verbal, pela bata estilística do texto que serve para. Aos jovens na escola, não são devidas apenas meia dúzia de técnicas textuais ou discursivas em que a língua significa em fórmulas fechadas, prontas a funcionar. E este não é um debate ocioso sobre a presença ou ausência deste ou daquele autor ou ainda da sobra de um restinho daqueloutro; trata-se de modos de aprender. Aprender a fazer um relatório é só aprender a fazer um relatório e imitar uma notícia de jornal nem sequer ensina a ler a notícia do jornal, porque o jornal só é bom de ler quando se lê com os nossos olhos e, sobretudo, se os nossos olhos vierem cheios de Gil Vicente e Vieira e Camões... Em educação é pelo máximo que se vai ao mínimo. Quando só se dá o mínimo, apenas se suscita íntimo desprezo ou nula aceitação. Sem grandeza não há grande educação.

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por Maria Almira Soares às 14:09

Sexta-feira, 14.03.14

A MINHA ESCOLA

 

  

 

   «Um dia a escola acaba...» dizia eu aos meus alunos, maneira de lhes fazer ver que deviam aprender para a vida. E agora penso: para cada um que termina os seus estudos escolares, a escola não acaba... prolonga-se-lhe na memória; quando ele sai, a escola vai com ele.

     Todos os anos, alunos partem, deixando o seu lugar vago para os que entram de novo, mas, em verdade, nunca perdem esse lugar. Toda a vida hão de dizer: «A minha escola.» Se um dia foram da escola, sempre serão da escola. Partem, mas ficam. Ficam, também, na lembrança daqueles que os veem chegar e partir, que os ajudam a fazer da escola a sua escola. A idade de uma escola não é apenas a do calendário: é o tempo de todos os que a fizeram.

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por Maria Almira Soares às 13:23


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