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scriptorium

"Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria." (Umberto Eco, O Nome da Rosa)



Quinta-feira, 30.10.14

À ENTRADA

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Sois muitos os que se aproximam desordenadamente, mas eu vejo-vos, ao longe, diferentes, reconheço-vos, porque sois «meus alunos», só vós sois os alunos desta que vos espera à porta da sala e, no ato da vossa entrada, vos olha um a um, saudando-vos, dizendo-vos o nome e, às vezes, mais uma ou outra palavra necessária. Como bem sabeis, tenho este hábito, este ritual de vos receber e cumprimentar, um a um, à entrada de cada aula. Mais uma dessas manias que, de início, vos parecem estranhas. Não sou de vos dar explicações, grandes explicações, nenhumas explicações, das coisas que faço. Nunca vos expliquei porque fazia isto de vos cumprimentar, deste modo, à entrada. E, em verdade, também nunca mo perguntastes. Como se, ao mesmo tempo, fosse estranho mas muito natural. Como se o que fosse estranho fosse o não ser, isto, natural. Talvez seja agora apropriado explicar-vos que não vos explico estas coisas, porque basta que as sintais. E esta é uma maneira de sentirdes que a relação de ensino implica um protocolo de encontro, de saudação, de cumprimento. Um pouco como naqueles jogos desportivos em que os ‘contendores’ se cumprimentam no início e no fim da prova, dando uma certa gravidade ao que ali, entre eles, se passa. Assim, entre nós. Não, como se a aula fosse da ordem do inevitável, do natural, do que tem de ser, do que está determinado que seja. Sim, como se houvesse ali atos de vontade. Como se estivéssemos a cumprir um encontro marcado para tratar de assuntos do nosso interesse.

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por Maria Almira Soares às 13:47

Quarta-feira, 22.10.14

LEITORES

 

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A leitura não se realiza sem a entrega do leitor ao texto. Sem o texto, o leitor nunca saberia da sua existência como leitor daquele texto. O texto é o princípio ativo da imaginação que o leitor de si mesmo faz no ato de ler, da figura metamórfica que, de si, cria. Sem aquele texto, o leitor nunca conheceria aquela forma de si que o texto lhe oferece; sem aquele leitor, o espetro atrativo de mundos imaginários do texto ficaria para sempre incompleto (ficará sempre incompleto). A leitura de um texto é as leituras singulares, todas as leituras singulares, atravessadas pelo caminho singular que o texto, através de todas elas, vai fazendo: feixe de leitores, atados por um texto. Leitores, todos os que se colheram no não dito do texto, em que se projetaram mobilizados pelo dito do texto.

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por Maria Almira Soares às 20:18

Sábado, 18.10.14

O PROFESSOR

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Lembro agora como, a uma antiga de vós, lhe saltaram as lágrimas aos olhos, quando lhe disse firmemente: não. Nunca lho tinham dito assim. Mas eu, meus alunos, eu não me conformo. Continuo a querer lógica, raciocínio, racionalidade. E vós… vós resistis, parais, tentais desistir. Pois é, bem sabeis que tenho de fazer essa coisa fora de moda (dizem até que arriscada) de vos obrigar. Essa coisa que já quase ninguém vos faz. Sinto, sei que é minha obrigação obrigar-vos. E vós, enfim, perante a minha força do mais forte, lá ides indo, lá ides tentando, lá ides conseguindo. Muitas vezes vos digo que, de mim, só podereis ter a verdade, mesmo que ela vos doa, mesmo que ela me doa. E é por causa disto, por causa da verdade, que tenho de vos dizer — e vós bem o sabeis — que não é bem assim, que não é apenas uma questão da força do mais forte, não. É também uma questão de serdes apanhados de surpresa por uma firmeza despudorada, impositiva, para a qual não tendes resposta preparada e que vos retira toda a guarda perante o que vos digo que façais. E uma vez que o fazeis uma vez… Uma vez que, uma vez, vos deixais obrigar a fazer o que vos digo que façais, já não há recuo possível. Sabeis, tão bem como eu, — andamos nisto, eu e vós, há tempo suficiente para que o saibamos — que as aulas têm as suas coisas, próprias, que não há em mais lugar algum. Sabeis bem, por exemplo, que se “o professor deixa” uma vez, nunca mais consegue verdadeiramente deixar de “deixar”. E que convosco é o mesmo: se desprevenidamente fazeis o que vos mando, mesmo que o que vos mando, à primeira vista, vos pareça quase impossível, ficais como que incapazes de não-fazer o que vos mando. E a tontura da surpresa, meus alunos, o espanto da surpresa, traz consigo a atração pelo desconhecido que é uma coisa muito juvenil. Muitos não o percebem, mas é precisamente essa coisa juvenil da atração pelo desconhecido que vos leva a aceitar o poder de uma voz firme e peremptória, insólita neste mundo escolar em que procuram falar-vos com doçura e como se vos pedissem desculpa por terem de ser vossos professores. Eu não. Eu, como bem sabeis, não tenho nenhum pudor em ser vossa professora. Sou afirmativa sem justificação e a surpresa que, de princípio, isto põe no vosso olhar nada me incomoda, pois sei que, deferidamente, depois do sobressalto da novidade, vós ides regressar à tranquila verdade de ser aluno.

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por Maria Almira Soares às 22:26

Sexta-feira, 17.10.14

LEITURA ESCOLAR

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Há na leitura emoções produtoras de lucidez e de conhecimento. «Não temos outra alternativa senão ler de maneira tanto rigorosa como exorbitante e tanto centrípeta como centrífuga e, na nossa qualidade de professores, senão ensinar os outros a lerem de igual modo.» [Scholes] O professor-educador do leitor, excessivo em relação ao nível programático, recria o aluno como discípulo de leituras em vez de mero praticante de instruções. Ao mostrar a sua liberdade de leitor centrífugo, mas conhecedor do repertório, sabedor, culto, o professor exerce no aluno o atrito de um modelo que o educa como leitor e, neste efeito paradoxal de atrito e sedução, veicula também os meios e conhecimentos didacticamente desejáveis: aprendizado em que se vai desejando e ousando trilhar os caminhos de leitor que o professor, em si mesmo, mostra. A condição fundamental, que permite a transformação da experiência escolar da leitura em ressonância, influência, memória e, deste modo, em educação, é a transcendência da função decifradora através de um modelo iniciador. Se assim for, a leitura em aula, pode constituir, para o aluno, uma iniciação. Não se trata de apostolado, de proselitismo, mas do processo quase-ficcional da descoberta de si no outro, durante o qual, o não-leitor, o quase-leitor, o pouco-leitor, se projeta na intimidade do professor-leitor, como coisa quase-ficcional. Esta apropriação de um «simulado» sentir íntimo dos textos atrai os alunos para o campo inter-subjectivo da experiência cultural. A leitura do aprendiz vai indagando e perseguindo a leitura do mestre, reverte-a em educação da sua genuína capacidade de ler. Só neste confronto, a leitura escolar conserva a sua credibilidade de leitura genuína, em vez de uma coisa sintética ad usum delphini, e deixa de ter a efemeridade do utilitário, para passar a exigir a permanência e o peso do escrito literário, alcançando a natureza de uma verdadeira inscrição educativa.

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por Maria Almira Soares às 20:24

Sábado, 11.10.14

PATRICK MODIANO, DORA BRUDER

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Tudo o que acontece fica nos lugares onde aconteceu. Para o saber, para ainda o ver e sentir, no entanto, é necessário possuir uma gravidade, um peso de implantação na existência que não cede à lavagem dos chamamentos póstumos. DORA BRUDER, a narrativa de PATRICK MONDIANO, tem o peso da pegada horrenda do antissemitismo francês durante a ocupação nazi. Muitas pegadas depois, há um olhar e uma escrita capazes de ver o rasto da dor e da crueldade, do medo, da cobardia, da indiferença, com uma clareza impositiva. Sem um único ponto de exclamação, esse olhar! Não é uma viagem ao passado, que isso seria o pagamento de portagem pela entrada na via do esquecimento. É um caminho no presente em que o tempo encolhe, porque esse esticar do tempo, que fazemos pondo-lhe muitas coisas dentro e recortando quadrículas a seguir a quadrículas numa imensidade de calendários, é a mentira ou a fuga do que alguém há de um dia ver como a verdade ou como regresso. A prisão de Tourelles, o Campo de Drancy, o Depósito de Presos, a Polícia de Assuntos Judaicos, o silêncio e o vazio do recolher obrigatório a partir das três da tarde existem, estão cá, cá em Paris. Aquele que os conta sente esse silêncio e esse vazio no meio da barafunda dos engarrafamentos de uma Paris superpovoada. PATRICK MONDIANO sente o silêncio, o vazio, o frio. Não porque se force a isso, mas porque o frio, o vazio, o silêncio estão lá nos lugares onde aconteceram. PATRICK MONDIANO sabe contá-los. Resta-nos a nós sabermos lê-los.

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por Maria Almira Soares às 20:40

Quinta-feira, 09.10.14

VERGÍLIO FERREIRA

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«Não, não gosto mesmo de dar aulas.»

 

         A denegação do gosto de ser professor [«Não, não gosto mesmo de dar aulas.»[1]] constitui uma afirmação nuclear, chave para aceder à identidade docente construída e assumida por Vergílio Ferreira. Recusa-se insistentemente — e mesmo contra algumas tentativas de evidência testemunhal do contrário — a assumir o lugar daqueles, cuja posição crítica sobre condições materiais do exercício da profissão não destrói o gosto como único traço de união feliz com a docência, ainda que dificultado por ambiente adverso.

       Vergílio Ferreira não se identifica com os que, apesar de tudo, gostam de ser professores e, só por isso, o são. Para estes, é, esse gosto, a tábua de salvação do naufrágio profissional, a pedra filosofal sobre que se constroem. Pelo contrário, no caso de Vergílio Ferreira, é graças à necessidade de preencher o vazio do não-gosto, que reflexiva e conscientemente se constrói como professor. Vergílio Ferreira vê, na inexistência de uma conjugação natural com uma profissão não procurada a partir de si, mas induzida por circunstâncias de vária ordem, a oportunidade de construir a sua persona professoral, desligada de qualquer adesão afectiva e muito determinada pelas suas convicções ideológicas, existenciais, estéticas. Não gosta de ser professor; torna-se professor como parte de um processo de paulatina inculcação da tendência escolarizadora da sua vida. Ser professor apresenta-se-lhe como conveniente ocupação do lugar, em si disponível, para uma profissão. Não nasceu professor, aceitou-se e construiu-se professor. E talvez o tenha feito com tal perfeição que chegou até a fazer-se perceptível como um professor que gosta de ser professor. Daí a necessidade de constantemente lembrar que «não, não gosta mesmo». Esta denegação do gosto é fulcral, porque fundadora do vazio sobre o qual se constroem todas as opções identitárias do professor Vergílio Ferreira.

 

 

[1] In Conta-Corrente 1, 21 de Maio, 1969.

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por Maria Almira Soares às 18:36

Quarta-feira, 08.10.14

CARTA DE UMA PROFESSORA AOS SEUS ÚLTIMOS ALUNOS (EXTRATO)

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[...] Bem, avancemos, voltemos à coisa que, ainda agora, ficou pouco esclarecida, a propósito da conversa sobre Horácio e Roma e a Grécia e isso de ser vencido o vencedor, de saber aceitar a superioridade. Que bem que Roma fez em deixar-se vencer pelo vencido! Alguns dizem que foi esse o começo do fim de Roma. Talvez… mas, mais importante do que isso, foi o princípio do sem-fim de Grécia-Roma de que, ainda hoje, somos os herdeiros. Herança que há quem diga (e eu também) que andamos a desbaratar. Tende paciência, meus alunos, mas vou mesmo aborrecer-vos a falar, com alguma demora, deste encontro entre Roma e a Grécia. Roma era boa em três coisas: no trabalhar da terra, no fazer do Direito e o administrar, no ser soldado e combater. Nestas três coisas, eram imbatíveis, os romanos. Povo pragmático, com um apurado sentido do útil, do prover das necessidades de preservação. Vede que até grande parte do vocabulário latino tem um sentido original congruente com o contexto agrícola! Hei de falar-vos disto, mas agora não. Já chega de labirintos! Fica a promessa feita: por sinal, uma das que vos fiz e não cheguei a ter tempo de cumprir, antes de deixar de ser vossa professora. Hei de explicar-vos a curiosa origem do sentido de algumas palavras a que achais tanta graça, as tais curiosidades etimológicas de que tanto gostais, contrariando, assim, a ideia-feita de que só vos interessa o presente. Bom, enfim, isso das etimologias fica para outra altura, que esta carta também serve para remir promessas não cumpridas. Pois, como vos ia dizendo, Roma era o útil, o prático, o desinteresse da fantasia, o desinteresse do imaginário, o desinteresse da ideia puramente especulativa. E estas coisas de que Roma se desinteressava eram precisamente aquelas com que o límpido céu da Grécia fadou os gregos e os fez serem geniais inventores de deuses, de mitos, de artes, de ciências, de filosofias… Mas Roma, meus queridos alunos, Roma não foi boçal: abriu-se à superioridade grega, soube abrir os seus campos de fragilidade com inteligência, soube deixar-se conquistar pelo desconhecido que a seduzia, pela grande arte, pela grande literatura gregas… Percebeis agora como tudo isto tem implicações civilizacionais? Percebeis como é boçal dizerdes que não presta um livro que ainda não lestes? Também Roma poderia ter dito “não presta”, ficando apenas a rever-se no brilho das suas vitórias militares, mas não o fez e ainda bem que não o fez. Lembrais-vos da raposa a propósito das uvas: — «Não prestam nem cães as podem tragar.»? Boçal, a raposa! E era esperta, como sabeis, muito esperta. E, no entanto, boçal! As duas coisas não são antagónicas e andam até, muitas vezes, de mãos dadas. Não deixeis que façam de vós espertos boçais. Digo-vos isto, mas bem sei qual é o sentido da corrente e que vós não sabereis, não podereis opor-vos ao sentido da corrente. Até eu ainda aí estaria a dar-vos aulas, se não estivesse tão cansada de me opor ao sentido da corrente. Se não me sentisse, perdoai-me a ousadia, como o Camões naquele verso que lemos juntos e cujo sentido vos expliquei: «No mais, Musa, no mais, que a lira tenho/ destemperada e a voz enrouquecida/e não do canto…». Não mais a presumível pertença a esse mundo de «gente surda», cegos conduzindo cegos, como na epígrafe daquele livro que uma de vós leu e não percebeu totalmente; não percebeu totalmente mas leu. Sei que estas são palavras tristes, estas de vos confessar a minha impossibilidade de continuar a ser professora: para isto, também serve esta carta; para apaziguar algum efeito de má consciência provocado por esta minha decisão, de algum modo quixotesca, de deixar de ser professora. Teve de ser, meus últimos alunos, teve mesmo que ser. E percebereis bem porquê, se bem lerdes o que aqui vos vou escrevendo. «Ou isto ou aquilo» — escrevia Cecília Meireles. Há que fazer escolhas. No dia em que vos comecei a escrever esta carta, ainda era vossa professora, mas tinha já esta sensação azeda de como que traição; no dia em que vos dei a última aula, quando vos disse que era a última, vi nos vossos olhos, em alguns dos vossos olhos: — E agora? E agora quem é que me vai endireitar os contos que escrevo? — E agora? Agora com quem é que vou discutir o valor literário do Código Da Vinci? — E agora…? E lá tive que travar a comoção que senti por, talvez exageradamente, estar a sentir que, de certo modo, ao deixar-vos, estava a modificar o vosso futuro. Um professor pode interferir num futuro. Não já eu. Outros o farão. Vós sabereis ser o que quiserdes ser, pois, ao mesmo tempo que sinto que vos faço falta, sinto que falta não vos faço. Em todo o caso, a verdade é que já não estou aí convosco e, quanto à falta/não falta que vos possa fazer, a coisa resolve-se assim: o impossível nunca faz falta; fazer-vos falta seria contardes com o impossível. Se sentistes alguma falta, foi apenas no momento da passagem do possível ao impossível e esse momento já passou. Agora não serei para vós, se o for, senão uma lembrança. A vossa realidade será outra, toda, completa, e nela vivereis a vossa vida escolar. E vós a mim? Far-me-eis falta? Só um tempo do tamanho desta carta. Só, enquanto a escrever, vivereis ainda para mim como alunos. Depois, tornar-vos-eis, como outros antes de vós já se tornaram, pessoas que, por vezes, encontro aqui e ali, e dizem: — Fui seu aluno… e eu digo: — Pois foste, lembro-me bem.

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por Maria Almira Soares às 20:08

Domingo, 05.10.14

VIVAS À REPÚBLICA

 

           O Cohen colocou uma pitada de sal à beira do prato, e respondeu, com autoridade, que o empréstimo tinha de se realizar «absolutamente». Os empréstimos em Portugal constiuiam hoje uma das fontes de receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida como o imposto. A única ocupação mesmo dos ministérios era esta — «cobrar o imposto» e «fazer o empréstimo». E assim se havia de continuar...

   Carlos não entendia de finanças: mas parecia-lhe que, desse modo, o país ia alegremente e lindamente para a bancarrota.[...]

     Ega mostrou-se impressionado. Olha que brincadeira, hem! E todos escutavam o Cohen. Ega, depois de lhe encher o cálice de novo, fincara os cotovelos na mesa para lhe beber melhor as palavras.

— A bancarrota é tão certa, as coisas estão tão dispostas para ela — continuava o Cohen — que seria mesmo fácil a qualquer, em dois ou três anos, fazer falir o país...

     Ega gritou sofregamente pela «receita». Simplesmente isto: manter uma agitação revolucionária constante; nas vésperas de se lançarem os empréstimos haver duzentos maganões decididos que caíssem à pancada na municipal e quebrassem os candeeiros com vivas à República; telegrafar isto em letras bem gordas para os jornais de Paris, de Londres e do Rio de Janeiro; assustar os mercados, assustar o brasileiro, e a bancarrota estalava. [...] À bancarrota seguia-se uma revolução, evidentemente. Um país que vive da «inscrição», em não lha pagando, agarra no cacete; e procedendo por princípio, ou procedendo apenas por vingança — o primeiro cuidado que tem é varrer a monarquia que lhe representa o «calote», e com ela o crasso pessoal do constitucionalismo.                                    

Eça de Queirós*, Os Maias, Lisboa, Ed. Livros do Brasil, s.d., págs. 165-166.

 

*Escritor português: 25/11/1845, Póvoa de Varzim — 16/8/1900, Neuilly, arredores de Paris.

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por Maria Almira Soares às 14:30


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