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scriptorium

"Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria." (Umberto Eco, O Nome da Rosa)



Sexta-feira, 17.10.14

LEITURA ESCOLAR

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Há na leitura emoções produtoras de lucidez e de conhecimento. «Não temos outra alternativa senão ler de maneira tanto rigorosa como exorbitante e tanto centrípeta como centrífuga e, na nossa qualidade de professores, senão ensinar os outros a lerem de igual modo.» [Scholes] O professor-educador do leitor, excessivo em relação ao nível programático, recria o aluno como discípulo de leituras em vez de mero praticante de instruções. Ao mostrar a sua liberdade de leitor centrífugo, mas conhecedor do repertório, sabedor, culto, o professor exerce no aluno o atrito de um modelo que o educa como leitor e, neste efeito paradoxal de atrito e sedução, veicula também os meios e conhecimentos didacticamente desejáveis: aprendizado em que se vai desejando e ousando trilhar os caminhos de leitor que o professor, em si mesmo, mostra. A condição fundamental, que permite a transformação da experiência escolar da leitura em ressonância, influência, memória e, deste modo, em educação, é a transcendência da função decifradora através de um modelo iniciador. Se assim for, a leitura em aula, pode constituir, para o aluno, uma iniciação. Não se trata de apostolado, de proselitismo, mas do processo quase-ficcional da descoberta de si no outro, durante o qual, o não-leitor, o quase-leitor, o pouco-leitor, se projeta na intimidade do professor-leitor, como coisa quase-ficcional. Esta apropriação de um «simulado» sentir íntimo dos textos atrai os alunos para o campo inter-subjectivo da experiência cultural. A leitura do aprendiz vai indagando e perseguindo a leitura do mestre, reverte-a em educação da sua genuína capacidade de ler. Só neste confronto, a leitura escolar conserva a sua credibilidade de leitura genuína, em vez de uma coisa sintética ad usum delphini, e deixa de ter a efemeridade do utilitário, para passar a exigir a permanência e o peso do escrito literário, alcançando a natureza de uma verdadeira inscrição educativa.

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por Maria Almira Soares às 20:24


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