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"Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria." (Umberto Eco, O Nome da Rosa)
— Em Londres — observou o conselheiro — tudo carvão...
Sim, dizia Carlos sorrindo, bastante carvão, sobretudo nos fogões, quando havia frio...
O Sr. Sousa Neto murmurou:
— E o frio ali deve ser sempre considerável... Clima tão ao norte!...
Esteve um momento mamando o charuto, de pálpebra cerrada. Depois, fez esta observação sagaz e profunda:
— Povo prático, povo essencialmente prático.
— Sim, bastante prático — disse vagamente Carlos, dando um passo para a sala, onde se sentiam as risadas cantantes da baronesa.
— E diga-me outra coisa — prosseguiu o Sr. Sousa Neto, com interesse, cheio de curiosidade inteligente. — Encontra-se por lá, em Inglaterra, desta literatura amena, como entre nós, folhetinistas, poetas de pulso?...
Carlos deitou a ponta do charuto para o cinzeiro, e respondeu, com descaro:
— Não, não há disso.
— Logo vi — murmurou Sousa Neto. — Tudo gente de negócio.
[...]
Carlos pôde enfim soltar a pergunta que lhe faiscara nos lábios toda a noite:
— Ó Ega, quem é aquele homem, aquele Sousa Neto, que quis saber se em Inglaterra havia também literatura?
Ega olhou-o com espanto:
— Pois não adivinhaste? Não deduziste logo? Não viste imediatamente quem neste país é capaz de fazer essa pergunta?
— Não sei... Há tanta gente capaz...
E o Ega radiante:
— Oficial superior de uma grande repartição do Estado!
— De qual?
— Ora de qual! De qual há-de ser?... Da Instrução Pública!
In Os Maias (Eça de Queirós)
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