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"Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria." (Umberto Eco, O Nome da Rosa)
A experiência de ler e ouvir ler em voz alta torna-se propulsora de uma energia que reverte para a leitura silenciosa, já que, depois de termos ouvido realmente o som dos textos, poderemos ouvir melhor, dentro de nós em silêncio, os animados diálogos que das longas séries de palavras, separadas por espaços em branco, se vão projectando no movimento oculto da leitura silenciosa.
Para quem lê em voz alta diante de um auditório o envolvimento pessoal é mais forte, há um desafio a vencer que, uma vez ultrapassado, é compensado pelo gosto de o ter conseguido e faz da leitura uma coisa mais material, mais concreta. Trata-se de uma experiência em que a via abstracta das palavras, por onde correm figuras e histórias, se concretiza na boca e nos ouvidos. A leitura em voz alta, por ser normalmente feita em grupo, tem de ser audível e expressiva quanto baste e congregar o interesse de quem a ouve e, desse modo, também a controla. É uma leitura testada em directo, quer na sua produção, quer na sua recepção. Ouvir-se e ouvir a ler em voz alta é como que a simulação da dádiva directa de quem criou a história a quem a está a fruir. É como se a história que se vai desenhando na nossa mente fosse acompanhada de uma banda sonora que lhe reforça o poder comunicativo.
A leitura em voz alta é um processo que proporciona um maior concretismo à palavra, tornando-nos mais sensíveis aos mecanismos que permitem o trânsito de histórias pelas palavras e mais conscientes de que as histórias que se contam não nasceram do nada, mas do trabalho imaginativo e laborioso que alguns, os escritores, fizeram com aqueles entes que têm som e passam das bocas de uns para os ouvidos de outros e, assim, vão permanecer em todos como um prazer e como uma memória. E a memória das leituras feitas constrói-nos enquanto leitores.
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