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"Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria." (Umberto Eco, O Nome da Rosa)



Segunda-feira, 23.10.17

RELER UMA ENTREVISTA

 

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ENTREVISTAS - Escritores

Quinta, 11 Março 2010

 

Maria Almira Soares: Plano Nacional de Leitura está a criar condições de acesso aos livros.

 
 

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Maria Almira Soares é licenciada em Filologia Clássica e pós-graduada em Educação e Leitura. Sendo professora de Português, Literatura Portuguesa e Latim, desenvolveu actividades de promoção de leitura na Biblioteca da Escola Secundária José Gomes Ferreira. Actualmente coordena a comunidade de leitores LERDOCELER. No domínio da língua e literatura portuguesas, publicou Como Fazer um Resumo, Para uma leitura de Mensagem e Para uma leitura de Folhas Caídas e, em co-autoria, Saber Escrever Saber Falar e Saber Escrever uma Tese. Publicou ainda os ensaios: Memorial do Convento - Um Modo de Narrar; Frei Luís de Sousa - Um Drama Psicológico; Ensinar-Reflexões sobre a Prática Docente e Como Motivar para a Leitura. É autora do conto infantil A Revolta das Frases. Foi distinguida com os seguintes prémios: Prémio de Revelação da APE/2003 - Literatura para a Infância e a Juventude para: A Revolta das Frases; menção honrosa, no Prémio Vergílio Ferreira – Ensaio Literário/2004 da Câmara Municipal de Sintra para: As Heteroleituras de Fernando Pessoa; Prémio Vergílio Ferreira - Ensaio/2010 da Câmara Municipal de Gouveia para: Vergílio Ferreira - O Excesso da Arte num Professor por Defeito.

 

Livros & Leituras – Como reagiu ao facto de ganhar o Prémio Vergílio Ferreira - Ensaio/2010 da C. M. de Gouveia?

Maria Almira Soares – Foi a primeira vez que concorri ao «Prémio Vergílio Ferreira» do Município de Gouveia. Sabia da sua existência, como parte da minha atenção generalizada às coisas da cultura, nomeadamente da literatura. Este ano, porém, aconteceu que o lançamento do Prémio ocorreu numa altura em que eu estava a concluir a escrita de um ensaio, precisamente sobre Vergílio Ferreira. Assim, como que naturalmente, resolvi concorrer. O meu interesse por Vergílio Ferreira é antigo, profundo e sempre determinante da vontade de saber. Sempre li Vergílio Ferreira como detentor de uma complexidade mobilizadora da emoção e desafiadora do conhecimento. Todavia, verificava que a grande massa do interesse suscitado se polarizava em torno do Escritor, deixando na obscuridade o Professor, talvez como se fosse um tema menor. De outro modo, em mim, a leitura de Vergílio Ferreira provocava um fascínio crescente pela sua identidade docente, pela relação entre o Escritor e o Professor e sobretudo pelas relações alegadamente difíceis entre a Arte e a Escola. E, sendo assim, este meu ensaio atribui importância à Escola e à Docência, enquanto elementos significativos para o conhecimento de Vergílio Ferreira. O seu título, O Excesso da Arte num Professor por Defeito, pretende significar o cerne da minha ideia sobre a relação entre o criador literário e o professor. Vergílio Ferreira assume a Arte como transcendência e consciencializa a docência como perda, mas… — e aqui reside a resolução positiva e harmónica desta equação — a Arte transborda para a Aula e faz com que a docência se una à totalidade do homem, criador literário e professor que foi. O meu ensaio, agora premiado, resulta de um estudo profundo realizado com muito gosto. Assim, sinto uma grande satisfação por ter havido quem o avaliasse positivamente. O reconhecimento do meu trabalho dá-me alegria. Do prémio, faz parte a publicação, facto que considero importante por permitir a comunicação com os possíveis leitores e, desse modo, constituir um contributo para o conhecimento de Vergílio Ferreira. 

L&L – O ensaio é a sua eleição?

MAS – Sou uma leitora incansável mas criteriosa e crítica. Daí a minha propensão para a escrita de ensaio sobre obras literárias mas também sobre temas relacionados com a Escola e a Leitura. Escrever ensaio é pensar sobre o que nos fascina ou nos preocupa. Isto não quer dizer que não pratique e não goste de outro tipo de escrita: a ficção.

L&L – Qual foi o livro que gostou mais de escrever?

MAS – Gosto de escrever. De estar a escrever. Do processo da escrita. Seja qual for o projecto de momento.

L&L – Porquê?

MAS – O processo da escrita é um acto de descoberta difícil mas emocionante. Estar envolvida nessa procura do sentido que as palavras prometem e saber reconhecê-lo é uma coisa que gosto muito de fazer.

L&L – Qual o livro que vai merecer um próximo ensaio?

MAS – Gostaria de escrever sobre Hélder Macedo… Vamos ver…

L&L – Por que motivo resolve passar do ensaio para o conto infantil?

MAS – Não se trata de «resolver passar». Às vezes, as palavras que estou a escrever conduzem-me, com a minha conivência, para o chamado «conto infantil». Gosto de escrever histórias para crianças. São histórias movidas pela força ilimitada da fantasia e, contudo, dão voz a dimensões fundamentais da vida. São uma forma de corresponder à avidez das crianças, de lhes alimentar a curiosidade leitora, de lhes abrir horizontes. Tenho várias histórias para crianças escritas e tenho esperança de as ver publicadas. Gostaria muito que assim fosse.

L&L – Já escreve segundo as regras do Acordo Ortográfico?

MAS – Ainda não.

L&L – Que opinião tem destes jovens escritores que vendem milhares de livros em poucos dias?

MAS – A minha opinião sobre um livro decorre da leitura que faço desse livro. E, daí, da sua própria valia enquanto criação literária. Não da idade do seu autor ou da sua fortuna comercial.

L&L – Qual o livro que está a ler neste momento?

MAS – Neste momento, estou, principalmente, a reler os Sinais de Fogo de Jorge de Sena, que serão objecto de discussão na próxima tertúlia da comunidade de leitores LERDOCELER, que coordeno. Em volta, há sempre outros passos por leituras várias… 

L&L – Acha que se consegue motivar um adulto para a leitura mesmo quando isso não aconteceu em criança?

MAS – O encontro feliz com um livro pode acontecer em qualquer idade e ser o momento fundador de uma identidade leitora.

L&L – De que modo?

MAS – Eu penso que a criação de um leitor não decorre tanto do forçar, do «impingir» livros, do condicionar pelos livros, mas do desenvolver de um certo imaginário, de um certo gosto, que, depois, encontra correspondência, encontra alimento na leitura. Eu acredito que é sobretudo isso que faz os leitores, o encontro desse tal imaginário, desse tal capital simbólico que todos temos, com as palavras de um livro. São frequentes, fáceis, óbvios, tais encontros? Não. A leitura chama a nossa subjectividade, mas também traz o mundo. E, portanto, a leitura, este processo de, enquanto nos vemos, vermos também outros mundos, é uma forma extraordinária da nossa construção, da nossa constituição como seres humanos, e é, por isso, importantíssima. Há, nos discursos sobre a leitura, uma palavra que eu considero perigosa e que é a palavra prazer. O prazer é uma coisa evanescente, é uma coisa volátil, é uma coisa que não tem um horizonte de construção, pelo contrário, até pode ser uma coisa muito intensa, mas que desgasta, que dá ressaca. Completamente diferente da leitura.

L&L – Que opinião tem do Plano Nacional de Leitura?

MAS – Sobre o PNL, penso que está a concretizar, no terreno, aquilo que é tema de tantas vozes e discursos: a importância de ler. Só se é leitor depois de ter lido. E, para ler, é necessário ter acesso aos livros, ao tal encontro feliz com o livro. O PNL está a criar as condições desse acesso e dessa efectivação da leitura.

L&L – Quais são os seus projectos futuros?

MAS – Trabalhar sempre no âmbito da escrita e da leitura

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por Maria Almira Soares às 10:52


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