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"Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria." (Umberto Eco, O Nome da Rosa)
Aquando da publicação de A Revolta das Frases, Manuela Maldonado escreveu na página do CRILIJ — Centro de recursos e investigação sobre literatura para a infância e juventude:
«Da combinação de um menino imaginativo, o João, com o uso cada vez mais frequente do chamado “código restrito”, isto é, a redução de palavras e frases a meia dúzia de expressões, nem sempre em bom português, nasceu a ideia originalíssima deste livro. O local privilegiado é uma escola, com um director, uma professora de Português, a Dona Emília, muitos alunos, muitos docentes e funcionários, onde surge um mistério intrincado para decifrar. O João, numa das suas deambulações interiores, frequentíssimas, ao passar a mão, distraidamente por debaixo da carteira pica-se e o seu dedo começa a emitir uma frase luminosa sobre qualquer superfície: “Deixem-me em paz!”. E é uma frase muito bem construída e com uma linda caligrafia. Atónito, o garoto não sabe explicar o sucedido. Apesar de querer guardar segredo, a frase irrompe em qualquer momento, em qualquer local. Na escola vai-se sabendo do fenómeno e o garoto é acusado de usar uma tecnologia de ponta!... Da conversa a que assistiu entre o director da escola e a professora de português, João ficou sabedor que as frases escritas nos tampos das mesas pelos alunos se infiltravam no interior da madeira, desaparecendo, até ao dia em que o João se picou. Posteriormente soube-se que a frase fora escrita por alguém em determinada sala, estando o tampo sem vestígios. Descoberto o autor, o Luís, foi acareado com o João, outro arguido, dado ocuparem o mesmo lugar em turmas diferentes. No momento da acareação, a frase ressurge no tampo e fala através da vibração do ar acima da mesa. Identifica-se como representante da Confederação das Frases Portuguesas, explicando a escolha do João e do Luís para ter visibilidade. É pedida ao director a redacção de uma convocatória para uma reunião da Comunidade no Auditório para explicações posteriores. O director pensando que tudo aquilo era um delírio, redigiu, contudo a convocatória, nos termos convencionados. A ordem de trabalhos era: Palavras, Frases, Escrita e problemas afins. Ao desenvolver o tema, pela vibração do ar, com um microfone em cima da secretária, a representante da Confederação explicou a revolta das frases devido ao seu mau uso, tanto mais que são sujeitas a uma grande exposição. Assim, resolveram tornar-se invisíveis. Claro que o entendimento da sessão passou por vários níveis: a maioria dos professores louvou o director pela sessão, perguntando, todavia, que tecnologia usou para a comunicação e qual o “spray” para o desaparecimento das frases; da parte dos alunos segredou-se que a sessão fora da iniciativa da professora de Português, por causa dos erros.
Nenhum outro acontecimento de monta ocorreu na escola, sobretudo deste teor misterioso, mas no “écran” interior dos grupos da escola, continuava a ouvir-se, em diferido: “sentimo-nos humilhadas e ofendidas”.
De grande alcance pedagógico, não só pelo tema desenvolvido como pela linguagem adoptada, este livro vem corrigir o fraco entendimento de autores de livros para crianças e jovens que insistem em utilizar um código restrito em vez de fazerem aceder os utilizadores da língua ao código alargado juntando, no caso vertente, o imaginário e o real no mundo das Palavras e das Frases.
Ilustrado por Sandra Serra, oriunda do Curso de Design Gráfico do ARCO, dedicada exclusivamente à ilustração infantil, assume-se o azul, expressão da Irrealidade e do sonho, como pano de fundo, ainda que outros tons surjam para explicar sensações como a raiva e a aflição, caso da camisa vermelha do Director. Figurativas, as personagens crianças e adultos diferem, naturalmente, não só nas cores empregadas como, sobretudo, por um traço distintivo corporal: o rosto. É redondo no primeiro caso, sinal de alegria despreocupada, anguloso no segundo pelo desgaste das partidas existenciais.
O texto icónico e o texto escrito interagem de um modo harmonioso.»
A partir dos 10 anos
Manuela Maldonado
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