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"Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria." (Umberto Eco, O Nome da Rosa)
Sandro Botticelli, O Nascimento de Vénus (pormenor)
Quando Amor nasceu,
Nasceu ao Mundo vida,
Claros raios ao Sol, luz às estrelas.
O Céu resplandeceu,
E de sua luz vencida
A escuridão mostrou as coisas belas.
Aquela, que subida
Está na terceira esfera,
Do bravo mar nascida,
Amor ao Mundo dá, doce amor gera.
Por amor se orna a terra
D’águas e de verdura,
Às árvores dá folhas, cor às flores.
Em doce paz a guerra,
A dureza em brandura,
E mil ódios converte em mil amores.
Quantas vidas a dura
Morte desfaz, renova:
A fermosa pintura
Do Mundo, Amor a tem inteira, e nova.
Ninguém tema seus fogos,
E chamas furiosas.
Amor é tudo, amor suave, e brando,
Sujeito a brandos rogos,
As águas amorosas
Dos olhos com brandura está alimpando.
Douradas, e fermosas
Setas n’aljava soam
À vista perigosas;
Mas amor levam, dos amores voam.
Amor em doces cantos,
Em doces liras soe,
Torne seu brando nome este ar sereno.
Fujam mágoas, e prantos,
O ledo prazer voe,
E claro o rio faça, o vale ameno.
No terceiro Céu toe
D’amor a doce lira,
E de lá te coroe,
Castro, de ouro o grã Deus, que amor inspira.
António Ferreira, Castro
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