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scriptorium

"Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria." (Umberto Eco, O Nome da Rosa)



Segunda-feira, 17.08.20

O TRÍPTICO DA SALVAÇÃO — NOTA DE LEITURA

cláudio

   Desde o «estabelecer-se-ia entre nós o diálogo mudo» da primeira página até ao «retomariam a peregrinação» da última, o uso do futuro do pretérito como modo de narrar induz, na lógica narrativa deste romance, uma perspetiva alucinatória. Dilui a consciência da realidade na dimensão da possibilidade.

   O uso do futuro do pretérito como tempo narrativo gera uma significação aspetual de antecipação fictiva, de troca de posição dos planos temporais arquetipicamente sucessivos, libertando-os dessa sua obrigação sequencial e fazendo-os vogar, quais manchas cronologicamente desenraizadas, no jogo de omnisciências, prerrogativa dos narradores. A ordem semântica sobrepõe-se à ordem pragmática.

   A ordenação das ocorrências e a ordenação da narração deslizam uma sobre a outra antepondo e pospondo os intervalos temporais que constroem a história, mas dando predominância significativa à referência antecipatória.

   O uso do futuro do pretérito empurra o facto a haver — que o narrador sabe que houve — para o momento da sua eventualidade, tornando-o silhueta, sombra, despojando-o da inteireza da sua realidade. A presumível geometria linear da sucessão das imagens-quadros-parágrafos quebra-se sob a constante produção de incerteza. A narração é uma sucessão de intervalos entre pontos de futuro antecipado. Não há lugar para a ânsia progressiva pela certeza de uma conclusão. O movimento narrativo inverte-se, regride, recolhe-se num tracejado de frágeis possíveis, pendentes do futuro conhecido/desconhecido, de inseguranças.

   Como em tudo o mais, no modo de narrar deste romance, pelo uso do futuro do perfeito, impera a consciência da mortalidade transcendida pela crença na ressurreição.

 

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por Maria Almira Soares às 12:02

Terça-feira, 11.08.20

A Bia está furiosa e...

E, no meio desta história, uma zanga feroz.

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por Maria Almira Soares às 17:11

Segunda-feira, 03.08.20

TRÍPTICO DA SALVAÇÃO de Mário Cláudio

  

 

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As três Tábuas da Leitura

   Tábua primeira: A linguagem de tecido espesso é-me um contínuo reposteiro lavrado de palavras e dizeres que, em si, encenam, na minha memória, a composição de um requintado risco, único, precioso. Sigo-o desconectada da sua função efabulatória. O recorte e a cor e o sonho e o roçagar da sua presença são suficientes para o meu encanto e cegam-me para outros desenhos que me estejam a ser inculcados. Não leio senão a maravilhosa superfície do texto que me encandeia deixando na escuridão outras obrigações de leitora?

   Tábua segunda: Vou eu pelos adiantados caminhos luminosos dos encontros surpreendentes de palavras há muito perdidas, sonhadora de que a leitura para que o livro foi escrito seja só esta, muito contemplativa, muito evocativa, quando... Estupefacção: sinto o abalo da presença de uma história. Da tapeçaria, releva-se uma história que, por dentro do meu sonho de adoradora de palavras, me tem vindo a ser contada. Neste momento regenerador da minha consciência de leitora de romances, recolecto personagens com as suas intrigas, presentes que estiveram desde «O aprendiz que» inicial. Não leio senão as histórias que, em precisas palavras, e só nestas, estão lavradas e, delas, não podem ser desenvasadas?

   Tábua terceira: Sigo os trilhos dos dizeres em que as histórias carrilam, viajo as figuras, os lugares, as ruas, as casas, os objetos, quando... Distraindo-me da imposição da sua presença, o meu pensamento translato decide seguir pontos, linhas, planos projetados das faces e das arestas da história que leio, e dos seus focos de equilíbrio e desequilíbrio. Reconheço, na parede de sombras em que embate esta projeção, o meu mundo, o mundo em que leio. Gestos, movimentos, comportamentos, ambições e agruras, ideias, paixões, evasões — enfim a Humanidade — que me estão a ser contados, apresentam-se-me com significação comum a despeito do tempo. Terei completado as três tábuas da leitura: Linguagem — Fábula — Significação?

 

 

 

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por Maria Almira Soares às 11:14


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