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scriptorium

"Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria." (Umberto Eco, O Nome da Rosa)



Segunda-feira, 08.02.21

- PLATÃO! QUE NOME TÃO ESQUISITO!

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  Neste livro, há um conto meu e, nesse conto, pode ler-se:

[...]

    Entretanto, iria afadigar-se com pequenos e variados afazeres domésticos que tinha atrasados, porque era esse um modo eficaz de bloquear a ansiedade, um conhecido e praticado modo de artificioso esquecimento que lhe permitiria surpreender-se com a chegada do neto, como de facto aconteceu:

— Já?

— Já!? Tínhamos combinado a esta hora, avô.

— Pois foi. Eu é que me tinha distraído. Estás grande!

— …

E, depois de um tempo de perguntas talvez supérfluas e respostas a condizer:

— Vou mostrar-te o Mendes, vais gostar do Mendes.

O Nuno estranhava sempre Portugal e aquele «mostrar-te o Mendes»... Seria cão?  Seria gato?

O filósofo riu-se.

— Vamos a casa do Mendes, um amigo meu…

— Ah!

— … e, depois, se calhar, vamos até ao café, conversar. Gostas de conversar?

— Gosto. E gosto de ouvir conversar.

— Ótimo.

— Ó avô, tu és fi-ló-so-fo?

O Nuno articulava muito bem e vagarosamente as palavras difíceis. As outras, dizia-as a correr.

— Sou.

— E o Mendes?

— O Mendes é linguista.

— Lin-gu-is-ta!?

— Sim, gosta de estudar as palavras.

— E tu gostas de estudar o quê?

 Iam a pé a casa do Mendes que não morava muito longe. Iam andando e conversando. De momento, José Vicente não estava descontente com o teor da conversa. Falavam de livros. O Nuno, quando chegara, trazia um livro, um desses álbuns de divulgação histórica para crianças sobre a biblioteca de Alexandria.

— Aquele livro que tu trazias…

— O da biblioteca de Alexandria?

— Sim, tu…

— Outro dia, vi na Net coisas fantásticas sobre a biblioteca de Alexandria.

— Ah, na Net…

— Tu não gostas da Internet?

— Sim, gosto, mas… Então, tu não sabes o que é um filósofo?

— Pois não.

— Um filósofo é alguém que gosta muito de saber.

— Ó avô, há mais filósofos como tu?

— Há, claro que há, e já há muito, muito tempo. Olha, no tempo da biblioteca de Alexandria, já havia filósofos. E muito antes, até.

— Não sei o nome de nenhum filósofo, sem ser o teu.

— Sabes nomes de quê?

— De jogadores de futebol, de cientistas, de músicos… Vá lá, diz lá o nome de um filósofo.

— Olha, por exemplo, Platão.

— Platão! Que nome tão esquisito!

[...]

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por Maria Almira Soares às 13:56


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