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"Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria." (Umberto Eco, O Nome da Rosa)
«Chegou a apertar-lhe a garganta nas mãos; mas depressa perdeu o vigor dos dedos. Quando as damas chegaram a interpor-se entre os dois, Baltasar tinha o alto do crânio aberto por uma bala, que lhe entrara na fronte. Vacilou um segundo, e caiu desamparado aos pés de Teresa.
Tadeu de Albuquerque gritava a altos brados. Os liteireiros e criados rodearam Simão, que conservava o dedo no gatilho da outra pistola. Animados uns pelos outros e pelos brados do velho, iam lançar-se ao homicida, com risco de vida, quando um homem, com um lenço pela cara, correu da rua fronteira, e se colocou de bacamarte aperrado, à beira de Simão. Estacaram os homens.
– Fuja, que a égua está ao cabo da rua – disse o ferrador ao seu hóspede.
– Não fujo… Salve-se, e depressa – respondeu Simão.
– Fuja, que se ajunta o povo e não tardam aí soldados.
– Já lhe disse que não fujo – replicou o amante de Teresa, com os olhos postos nela, que caíra desfalecida sobre as escadas da igreja.
– Está perdido! – tornou João da Cruz.
– Já o estava. Vá-se embora, meu amigo, por sua filha lho rogo. Olhe que pode ser-me útil; fuja…
Abriram-se todas as portas e janelas, quando o ferrador se lançou na fuga até cavalgar a égua.
Um dos vizinhos do mosteiro, que, em razão de seu ofício, primeiro saiu à rua, era o meirinho-geral.
– Prendam-no, prendam-no, que é um matador – exclamava Tadeu de Albuquerque.
– Qual? – perguntou o meirinho-geral.
– Sou eu – respondeu o filho do corregedor.
– Vossa senhoria! – disse o meirinho espantado; e, aproximando-se, acrescentou a meia-voz:
– Venha, que eu deixo-o fugir.
– Eu não fujo – tornou Simão. – Estou preso. Aqui tem as minhas armas.»
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