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"Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria." (Umberto Eco, O Nome da Rosa)
Era uma vez um Não-Leitor.
Não-Leitor vivia cego e surdo para tudo o que fosse livro e leitura, principalmente leitura de literatura. Em algum momento da sua vida, algum mecanismo parasita se instalara em alguma parte de si deixando-o em denegação da possibilidade de ler. Ou, então, tratara-se do crescimento, do avolumar de alguma longínqua má vontade que, alastrando, lhe veio a ocupar a vida toda em modo de não-leitor.
Chegara o Não-Leitor a um ponto tal do seu estado de não-leitura, que nem sequer se sentia interpelado por nenhuma hipótese, ainda que ténue, de ler, por exemplo, um conto, um romance e ainda muito menos um poema. Passava pelos livros sem os ver, indiferente, como um vegetal. Cortava, de imediato, a sua participação em qualquer conversa em que o tema da leitura pudesse estar embrionário. Dava-se com gente que não lia. Deus o livrasse de assistir a qualquer programa de televisão (dos pouquíssimos que havia) sobre livros e leitura. Ou de estar presente em qualquer sessão com alguma componente respeitante a livros, por mínima que fosse.
A sua mulher, que também não lia, tinha, por razões de ordem decorativa, posto uma meia-dúzia de livros num vão de um móvel livre de bibelots. Deixou-os estar. Para ele, eram só exterior — bibelots também.
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