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"Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria." (Umberto Eco, O Nome da Rosa)
CONVERSA NA CATEDRAL
AMBROSIO e ZAVALITA! BIG BANG! Por um momento de quinhentas páginas, a partir deste encontro, tão denso e tão negro como o mais denso buraco negro, expande-se o tempo em todas as direções. E, enquanto cresce, o tempo cria espaço, múltiplos espaços habitados. Assim se engana o efeito destruidor de Cronos, devorador de seus filhos, dando-lhe a comer a pedra amassada da ternura e da raiva, do amor e do medo, da violência e da tristeza, da mentira, da vergonha, da inocência e da maldade, da crueldade… enfim, o Homem. O Homem: luz, água, ave, árvore, pedra… Nascido água e andando até se adensar em pedra. Pedra que vamos lendo, enquanto se adensa e o tempo a não devora. Do encontro entre Ambrosio e Zavalita, expande-se a narrativa, explode a criação de um universo. Uma rede finíssima de pontos de vista, uma coreografia minimal e exata de vozes, lança sobre este universo uma gaze alucinante, pontilhada de omina, de sombras pairantes que encobre/descobre, elaborando com perícia a arte da surpresa, a arte clássica, grega, do reconhecimento: «O gorila é o guarda-costas dele. Chama-se Ambrosio.» O Humano esculpido nas palavras, nas pequenas falas como na larga maré dos pensamentos, golfadas, ondas, vómitos, jorros de luz, conversa. Puxa-se uma ponta e larga-se… e volta-se atrás a puxar outra ponta… um veio que ficou em espera, por explorar… Deixa-se de pousio uma cepa já bem pegada, a que mais adiante se há de regressar para puxar outro rebento… Sábias mudanças de tom, harmonias musicais. Este livro não descreve nem narra, faz música com a volubilidade dos tons certos para cada tema: o tema de Ambrosio, o tema de Amalia, o tema de D. Cayo, o tema de D. Fermin… Numa poética desmesurada, mas certa, certeira, cabe ainda a escala rítmica do thriller em busca da cara mais vil da política, em busca da exibição negra do poder, uma coisa escorregadia, movediça, vil, lacaiesca. Painel espectral, turvo — de figuras, de situações, disseminadas, cruzadas, sobrepostas — que filtra, isola a luz sombria mas nítida da consciência de um homem: Santiago Zavala. Expiação e amor.
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