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"Tal como surgiu diante dos meus olhos, a esta hora meridiana, fez-me a impressão de uma alegre oficina da sabedoria." (Umberto Eco, O Nome da Rosa)
[...] Pensando nisto e lembrando outras situações, tomamos a iniciativa de fundar imaginariamente uns imaginários NÃO-LEITORES ANÓNIMOS.
[...]
Eis um não-leitor anónimo em sessão:
— Eu chamo-me Vanessa e sou uma não-leitora. Não leio, porque, à minha volta, ninguém lê; não leio, porque me sinto desconfortável com um livro na mão; não leio, porque me assalta a timidez de entrar numa livraria; não leio, porque gasto o dinheiro em roupa; não leio, porque a minha cabeça fica parada a pensar na cor do cabelo da minha amiga Carla; não leio, porque, por não ler, esqueci-me do sentido de muitas palavras que vêm nos livros, o que torna a leitura muito difícil; não leio, porque, à minha volta, não é preciso ler para se ser reconhecido socialmente; não leio, porque o meu namorado acha betinho ler; não leio, porque acho que, se começar a ler, vou ser diferente e eu acho que, assim, é que sou gira; não leio, porque, quando tento, fico triste, pois começo a perceber a distância que há entre o que sou e o que poderia ser; não leio, porque está sempre a dar televisão e porque vamos ao cinema em grupo comer pipocas, fazer barulho e dar risadas. Eu sou uma não-leitora e estou aqui, porque quero ser ajudada a ser uma leitora.
Não esta previsto que esta história ficcionada vá ter um desfecho. Esta história não vai acabar nem bem nem mal, mas, mesmo assim, acha-se por bem informar que ainda não é, neste ponto, que esta não-leitoravai ser acolhida com uma ovação; ela ainda não disse não leio, porque não sinto necessidade de ler...
[...]
In Como Motivar para a Leitura (2003)
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